Por mais de 400 anos, o bairro do Comércio foi o principal centro econômico de Salvador. A região recebia navios, dos quatro cantos do mundo, abarrotados com os mais variados produtos, quase que diariamente. Por isso, era rica e lá os aluguéis custavam caro. Hoje, quem circula pelo local acredita que as ruas não lembram, nem de longe, aqueles tempos áureos.
Para revitalizar o bairro, as principais praças e ruas passarão por reforma. Também está no projeto da prefeitura desenvolver ações habitacionais no local. O projeto, efeito pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), ligada à prefeitura de Salvador, contempla as praças Visconde de Cayru, Inglaterra, Riachuelo e Marechal Deodoro (Praça da Mãozinha) e a Rua Miguel Calmon, que será reformada e arborizada.
As primeiras máquinas chegaram no local esta semana. A Praça da Inglaterra já está sofrendo as intervenções. Tapumes isolaram o espaço da obra, à prova de curiosos, e operários trabalham no local durante todo o dia.
Ao lado da praça, sentado em uma cadeira plástica, o aposentado Alfredo Bonfim, 66 anos, observava os trabalhadores. Ele mora no Garcia, mas frequenta o bairro do Comércio há mais de 20 anos.
“Essa região está precisando mesmo de melhorias. Essa praça estava cheia de sujeiras, bastante abandonada. Essa reforma é mais do que bem-vinda. Esperamos que o resultado seja mesmo positivo”, contou o ex-administrador de empresas.
Depois da Praça da Inglaterra, serão iniciadas as obras na Praça Cayru, na Rua Miguel Calmon e, por fim, na Praça Marechal Deodoro. Cada obra tem um prazo distinto, mas a estimativa é de que tudo esteja tudo pronto no primeiro semestre de 2019.
Mudanças
O ato de contemplação de seu Alfredo, por coincidência, foi o que inspirou parte do projeto. De acordo com a presidente da FMLF, Tânia Scofield, as reformas são para tornar as praças mais habitáveis, com espaços de lazer e descanso. Essa seria a primeira parte do projeto. A segunda é atrair mais comerciantes e moradores para lá.
“Estamos fazendo um projeto integrado, ou seja, várias ações em diferentes áreas. Mas, para que haja melhorias, é preciso ações diversas, tanto urbanísticas como de habitação, e outras para potencializar o comércio. Queremos criar um ambiente de moradia naquela região”, afirma Tânia.
A prefeitura está elaborando um projeto de habitação social e popular. O estudo deve ficar pronto até o final do ano. Até lá, serão feitas as reformas estruturais, de mobilidade e acessibilidade.
Praças
De uma maneira geral, as praças vão receber novos pisos, paisagismo, iluminação, bancos e outros equipamentos. Para a ambulante Rita Barreto, 70, a necessidade é urgente: “As pessoas estão vindo cada vez menos ao Comércio por conta da falta de estrutura. A gente percebe isso na queda das vendas”.
A Praça da Inglaterra terá um atrativo a mais. Uma estátua do ativista e líder político indiano Mahatma Gandhi será erguida no local. A obra é uma doação do governo indiano e uma homenagem aos Filhos de Gandhy, afoxé que surgiu no Porto de Salvador. A peça está prevista para chegar a Salvador em junho deste ano.
A reforma nessa praça está sendo feita com recursos de emenda e vai custar mais de R$ 1,6 milhão. Já a Praça Cayru será estendida do Mercado Modelo até o cais ao lado do 2º Distrito Naval. A pista que atualmente passa ao lado do Mercado será desativada, enquanto a outra via será ampliada para dois sentidos.
O investimento será de R$ 6 milhões para a praça e mais R$ 1 milhão para a recuperação do cais e da rampa. Os recursos são da Caixa e do Ministério do Turismo.
A praça Marechal Deodoro é uma das maiores da cidade e das mais deterioradas. Com calçamentos soltos e má iluminação, quem frequenta o local garante que é perigoso passar pela região. A prefeitura ainda não estimou o valor da obra nesse local.
Comércio
Não há setor mais esperançoso com as reformas do que aquele que dá nome ao bairro. Segundo o coordenador do Conselho de Comércio da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), Haroldo Núñes, os comerciantes acompanham a ação e apoiam a ideia.
“Eles estão adorando o projeto. Essa revitalização é muito bem-vinda e era esperada há muito tempo. O poder público já deveria ter interferido ali”, disse.
O presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Estado da Bahia (Sindilojas), Paulo Motta, também aprova o projeto, mas lembrou que as intervenções precisam ser amplas. Segundo ele, há cerca de 500 lojas lá, empregando 15 mil trabalhadores.
“O projeto está bonito e todos estamos de acordo. Com a mudança das grandes empresas para outros pontos da cidade, o Comércio foi afetado, então, é preciso pensar o bairro de uma maneira mais ampla. Trazer moradores, recuperar os imóveis abandonados, pensar em isenções fiscais para atrair mais comerciantes, enfim, são muitas questões”, afirmou.
O projeto de habitação que está sendo elaborado pela Fundação Mário Leal Ferreira envolve 90 imóveis que foram identificados na região. O estudo observa o estado de conservação desses imóveis, a situação fundiária e as dívidas com o município.
A ideia é de que essas casas sejam destinadas a habitação social e popular. A FMLF informou que está conversando com movimentos de luta por moradia sobre o assunto. Até lá, o vai e vem do Comércio segue frenético.
Fonte: Correio